Historicismo

 Nota: Se procura o estilo arquitectónico, veja arquitetura historicista. Se procura escola de interpretação, veja historicismo (escatologia).
Ressignificação da obra Monalisa, de Leonardo da Vinci, enfatizando o caráter mutável da obra de arte.

Historicismo ou historismo é uma forma de abordagem dos fenômenos e culturas humanas que se centra na importância da história para a compreensão destes. Constitui a base de uma visão de mundo (Weltanschauung) tipicamente moderna e ocidental fundamentada na noção de que as configurações do mundo humano, num dado momento, sempre são resultado de processos históricos de formação passíveis de serem mentalmente reconstruídos e, portanto, compreendidos. Assim, rechaça a existência de leis gerais para a compreensão dos fenômenos políticos, sociais ou culturais. Ao longo dos séculos, os termos historicismo e historismo foram empregados com múltiplos significados, muitas vezes discordantes.

Possui cinco diferentes características. O historicismo genético afirma a totalidade de sentido da história e compreende que os diversos fenômenos podem ser conhecidos através da investigação de sua história no tempo. O historicismo metafísico, de forma semelhante, procura compreender a ordem e a racionalidade dos processos históricos, porém, detém um olhar providencialista de viés protestante. O historicismo tradicionalista possui um posicionamento exaltador do passado e crítico a tudo que é novo, projetando seu tradicionalismo na apologia às tradições locais. O historicismo metódico desenvolveu-se enquanto prática científica e deu seguimento à racionalidade metódica do Iluminismo ao elencar a especialização disciplinar como fundamental ao pensamento histórico. Por fim, o historicismo ético relativiza os valores humanos a fim de enfatizar a importância do tempo histórico para a análise dos fenômenos.

A perspectiva historicista surgiu na Europa ocidental na segunda metade do século XVIII, sendo decisiva para a configuração da ciência histórica (Geschichtswissenschaft). Ao longo do século XIX e até às primeiras décadas do século XX, o historicismo teve forte impacto social, sobretudo na Alemanha, cujos pensadores iluministas são suas principais influências, embora também se valha das ideias de pensadores britânicos e franceses. Sua origem relaciona-se à formação dos Estados Nacionais, podendo ser entendida como uma reação à crise das sociedades europeias frente aos impactos da Revolução Francesa. A partir do século XX, diferentes contestações sobre a visão de mundo historicista se destacaram e compuseram aquilo que foi denominado como crise do historicismo. As principais críticas opunham-se ao historicismo enquanto um viés relativista e à atribuição do historicismo como alicerce do surgimento da História enquanto disciplina acadêmica. Além disso, o historicismo também foi acusado de acreditar na objetividade do conhecimento histórico livre de interferências de valor ou preconceitos. Para alguns historiadores, a crise do historicismo esteve ligada à impossibilidade de achar significado e progresso na história após o desastre humano da Primeira Guerra Mundial.

Diversos autores advogam que o historicismo clássico ganhou uma nova onda de adeptos na passagem do século XIX para o XX, caracterizados como neo-historicistas. Esses pensadores, como Benedetto Croce e Robin George Collingwood, reafirmaram a importância e centralidade do conhecimento histórico historicamente relacionado e, como o filósofo Wilhelm Dilthey, colocam em relevo o primado da razão histórica em oposição à razão científica. Com poucas referências às discussões do historicismo europeu, o novo historicismo estadunidense enfatiza a importância dos contextos sociais na leitura de obras literárias.


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