Neurodiversidade

Arte autista que representa a diversidade natural das mentes humanas

Neurodiversidade se refere às variações naturais no cérebro humano de cada indivíduo em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas.[1][2] O termo foi criado em 1998 pela socióloga Judy Singer, que junto ao jornalista Harvey Blume foram responsáveis por popularizar o conceito. Surgiu como uma teoria marginal que se contrapõe à visão predominante de que os transtornos do neurodesenvolvimento são inerentemente patológicos, como no modelo médico da deficiência. Em vez disso, a neurodiversidade adota o modelo social da deficiência, no qual as barreiras sociais são o principal fator que restringem as pessoas com deficiência.[3][4][5]

A origem da palavra neurodiversidade é atribuída a Judy Singer, uma cientista social que se descreveu como inserida "provavelmente em algum lugar do espectro autista",[6] e usou o termo em sua tese de sociologia publicada em 1999.[7] O termo representa um afastamento das teorias anteriores como a da mãe-geladeira, que "culpa a mãe" como uma possível causa do autismo.[8] Como resultado de seus interesses mútuos no autismo, Singer mantinha contato com Blume, e embora ele não tenha dado crédito a Singer, a palavra apareceu pela primeira vez em um artigo de Blume na revista The Atlantic, em setembro de 1998.[9]

Alguns autores[10][11] também creditam o trabalho anterior de Jim Sinclair, ativista autista, como fator que ajudou o avanço do conceito de neurodiversidade. Sinclair foi o principal organizador da comunidade online internacional do autismo. O discurso de Sinclair de 1993, "Don't Mourn For Us", enfatizou o autismo como uma forma de ser: "Não é possível separar a pessoa do autismo."[12] Em um artigo do New York Times, de junho de 1997, escrito pelo jornalista e escritor americano Harvey Blume, a origem da neurodiversidade foi descrita usando o termo "pluralismo neurológico".[13] Blume foi um dos primeiros defensores a prever o papel que a Internet teria na promoção dos movimentos da neurodiversidade.[14][15]

Desde sua origem, o termo "neurodiversidade" foi aplicado a outras condições e assumiu um significado mais generalista. Por exemplo, a Developmental Adult Neurodiversity Association (DANDA) no Reino Unido considera o transtorno de coordenação do desenvolvimento, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), síndrome de Asperger e outras condições relacionadas como também pertencentes à ideia conceitual da neurodiversidade.[16]

Os defensores da neurodiversidade apontam que as pessoas neurodivergentes costumam possuir habilidades excepcionais comparáveis a suas fraquezas. Por exemplo, uma pessoa com TDAH pode exercer um hiperfoco em algumas tarefas, enquanto luta para se concentrar em outras, ou uma pessoa autista pode ter uma memória excepcional ou até savantismo. Desse modo, os teóricos da neurodiversidade defendem o reconhecimento dos pontos fortes e fracos das pessoas neurodivergentes, e acreditam que uma variedade de condições neurológicas que atualmente são classificadas como patologias são mais bem vistas como diferenças cognitivas. Essa visão é especialmente popular dentro do movimento de direitos dos autistas.

O paradigma da neurodiversidade tem sido alvo de debates entre os defensores da visão patológica e os adeptos à ideia da neurodiversidade. Os críticos da neurodiversidade dizem que este conceito não reflete a realidade de indivíduos que possuem grandes necessidades de apoio.[17][18][19]

  1. Oliveira, Beatriz (1 de setembro de 2021). «Neurodiversidade: um conceito que integra». Núcleo de Acessibilidade — Universidade Federal de Goiás (UFG). Consultado em 11 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 12 de abril de 2020 
  2. Armstrong, Thomas (2011). The power of neurodiversity : unleashing the advantages of your differently wired brain 1st Da Capo Press paperback ed. Cambridge, MA: Da Capo Lifelong. ISBN 9780738215242. OCLC 760085215 
  3. Oliver, Michael, 1945-2019. (2006). Social work with disabled people 3rd ed. Basingstoke, Hampshire: Palgrave Macmillan. ISBN 1403918384. OCLC 62326930 
  4. Chapman, Robert (10 de janeiro de 2019). «Neurodiversity Theory and Its Discontents: Autism, Schizophrenia, and the Social Model of Disability». In: Tekin; Bluhm. The Bloomsbury Companion to Philosophy of Psychiatry (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing. pp. 371–387. ISBN 9781350024069 
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  6. «Meet Judy Singer Neurodiversity Pioneer». My Spectrum Suite (em inglês). Consultado em 14 de maio de 2019 
  7. Singer, Judy (1 de fevereiro de 1999). «'Why can't you be normal for once in your life?' From a 'problem with no name' to the emergence of a new category of difference». In: Corker; French. Disability Discourse (em inglês). [S.l.]: McGraw-Hill Education (UK). pp. 59–67. ISBN 9780335202225. Para mim, o principal significado do 'espectro autista' é sua preocupação e antecipação a uma política que reconheça a diversidade neurológica, ou neurodiversidade 
  8. Bumiller, Kristen. "The Geneticization of Autism: From New Reproductive Technologies to the Conception of Genetic Normalcy." Signs 34.4 (2009): 875-99. University of Chicago Press.
  9. Blume, Harvey (30 de setembro de 1998). «Neurodiversity». The Atlantic. Consultado em 7 de novembro de 2007. Cópia arquivada em 5 de janeiro de 2013. A neurodiversidade talvez seja tão crucial para os indivíduos quanto a biodiversidade é para o meio ambiente. Quem poderá dizer qual tipo de abordagem se mostrará mais difundida em determinado momento? A cibernética e a cultura da internet, por exemplo, podem favorecer uma forma de pensar mais autista. 
  10. Solomon, Andrew (25 de maio de 2008). «The autism rights movement». New York. Consultado em 27 de maio de 2008. Cópia arquivada em 27 de maio de 2008 
  11. Fenton, Andrew, and Tim Krahn. "Autism, Neurodiversity and Equality Beyond the Normal" (PDF). Journal of Ethics in Mental Health 2.2 (2007): 1-6. 10 November 2009.
  12. Sinclair, Jim. Don't Mourn For Us. Autism Network International, n.d.. Retrieved on 2013-05-07.
  13. Blume, Harvey (30 de junho de 1997). «Autistics, freed from face-to-face encounters, are communicating in cyberspace». The New York Times. Consultado em 8 de novembro de 2007. Ainda assim, ao tentar se chegar a um consenso com um mundo [dominado pelos neurotípicos], os autistas não querem e nem são capazes de abandonar seus próprios costumes. Em vez disso, eles propõem um novo pacto social, enfatizando o pluralismo neurológico. [...] O consenso é mais fácil de se atingir nos fóruns da internet e outros sítios onde pessoas autistas se reúnem [...] é que a visão NT [neurotípica] é apenas uma das muitas abordagens neurológicas — certamente é a abordagem dominante, mas isso não quer dizer que seja necessariamente a melhor. 
  14. Blume, Harvey (1 de julho de 1997). «"Autism & The Internet" or "It's The Wiring, Stupid"». Media In Transition. Massachusetts Institute of Technology. Consultado em 8 de novembro de 2007. Um projeto chamado CyberSpace 2000 se dedica a alcançar o maior número possível de pessoas inseridas no espectro autista para que seja estabelecida uma rede de comunicação virtual até o ano 2000, porque a internet é um meio essencial para pessoas autistas melhorarem suas vidas, já que muitas vezes é a única maneira eles conseguem se comunicar com eficácia. 
  15. Ortega, Francisco (outubro de 2008). «O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade». Mana (2): 477–509. ISSN 0104-9313. doi:10.1590/S0104-93132008000200008. Consultado em 10 de fevereiro de 2021 
  16. danda.org.uk Arquivado em 2019-11-10 no Wayback Machine DANDA website. Retrieved on 6 January 2015
  17. Opar, Alisa (6 de maio de 2019). «A medical condition or just a difference? The question roils autism community.». The Washington Post. Consultado em 12 de maio de 2019 
  18. Robison, John E. «The Controversy Around Autism and Neurodiversity». Psychology Today (em inglês). Consultado em 14 de maio de 2019 
  19. McGee, Micki (agosto de 2012). «Neurodiversity». Contexts. 11: 12–13. doi:10.1177/1536504212456175 

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